Uma clínica de estética em Goiânia, que atendia pacientes de diversas partes do Brasil, está no centro de uma investigação após denúncias graves feitas por ex-funcionários. De acordo com os relatos, substâncias tóxicas foram aplicadas em pacientes em procedimentos estéticos, colocando em risco a saúde de centenas de pessoas. Entre 2018 e 2019, mais de 950 clientes passaram pelos serviços da clínica, sendo que, durante esse período, o produto utilizado em procedimentos de preenchimento facial era suspeito de ser óleo de silicone, uma substância industrial e não autorizada para uso estético.
A descoberta veio à tona após investigações detalhadas e a colaboração de ex-funcionários da clínica, que confirmaram as irregularidades. Em depoimentos à polícia, um biomédico afirmou que, durante um procedimento de preenchimento labial, notou que o produto utilizado não era ácido hialurônico, como prometido aos pacientes, mas sim óleo de silicone, uma substância oleosa que não é indicada para esse tipo de tratamento. Além disso, a polícia encontrou evidências de que o óleo de silicone estava sendo administrado em seringa simples e sem qualquer identificação, o que gerou ainda mais suspeitas sobre a atuação da clínica.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Daniel de Oliveira, o óleo de silicone foi utilizado de maneira indevida, resultando em graves riscos à saúde dos pacientes. O ácido hialurônico, substância esperada pelos clientes, é um gel absorvível pelo organismo, enquanto o óleo de silicone é uma substância não biodegradável, que pode gerar inflamações e nódulos no corpo. A polícia também orientou que todas as vítimas que passaram pela clínica entre 2018 e 2019 procurassem um dermatologista, uma vez que o óleo de silicone pode causar reações adversas inesperadas a qualquer momento.
A clínica em questão foi fechada em dezembro de 2024, após a prisão do casal de proprietários, Karine Gouveia e Paulo César Dias, que tentaram atrapalhar as investigações. Ambos foram acusados de manipulação de provas e de continuar operando a clínica de forma ilegal, desrespeitando as ordens judiciais. A polícia ainda investiga a extensão do uso do óleo de silicone em outros procedimentos estéticos realizados na clínica, uma vez que os registros indicam que mais de 100 pacientes apresentaram reações adversas após os tratamentos.
Entre as vítimas, um dos relatos mais impactantes foi de uma cliente que pagou por um tratamento com ácido hialurônico, no valor de R$ 1,5 mil por mililitro, e recebeu óleo de silicone, que custa apenas R$ 80 o litro. Esse engano gerou uma sensação de fraude e decepção entre os pacientes, que agora enfrentam complicações médicas devido ao uso de substâncias inadequadas. Os médicos alertam que o óleo de silicone pode causar danos permanentes à pele e, em alguns casos, é necessário realizar cirurgias para remover os resíduos do produto.
Além das complicações físicas, as vítimas também enfrentam danos emocionais, pois confiaram nas promessas de tratamentos revolucionários divulgados nas redes sociais. A clínica, que tinha uma grande presença online, atraía clientes de várias partes do país, oferecendo procedimentos estéticos de última geração. No entanto, o que parecia ser uma solução para melhorar a aparência se transformou em um pesadelo para muitos. As autoridades agora trabalham para identificar todas as vítimas e proporcionar o apoio médico necessário para tratar as sequelas dos procedimentos.
A Anvisa, agência responsável pela regulamentação de produtos de saúde no Brasil, identificou uma série de irregularidades em outras clínicas de estética no país, o que gerou um alerta para a necessidade de maior fiscalização no setor. Com base nas investigações, é possível que a clínica de Goiânia tenha sido apenas a ponta do iceberg, revelando práticas ilegais e perigosas em diversas outras instituições de estética. Esse caso serve como um alerta para todos os consumidores, que devem redobrar a atenção ao escolher uma clínica de estética e garantir que os profissionais estejam devidamente qualificados e que os produtos utilizados sejam autorizados pelas autoridades competentes.
Por fim, as prisões dos donos da clínica não foram suficientes para tranquilizar as vítimas, que buscam reparação e justiça pelos danos sofridos. A defesa do casal de proprietários afirmou que as acusações são infundadas e que os clientes estavam cientes dos procedimentos realizados. Contudo, os ex-funcionários e as vítimas reafirmaram suas denúncias, alegando que foram enganados e que suas vidas foram alteradas de forma irreparável. A investigação continua, e as autoridades pedem que outras vítimas se apresentem para colaborar com o caso.
Autor: Laimyra Sevel
Fonte: Assessoria de Comunicação da Saftec Digital